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Encontrou uma capivara no campus? Guia orienta como coexistir com a fauna na USP em Piracicaba

Guia explica conceito de coexistência e dá dicas do que fazer ao encontrar um animal silvestre – Arte sobre foto / Esalq

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A fauna silvestre é uma marca do campus Luiz de Queiroz, localizado em Piracicaba, no interior de São Paulo, que abriga 3.825,4 hectares e ocupa cerca de 49% da área total da USP. Por lá, são encontradas mais de 20 espécies de animais, entre eles a capivara, o sagui, a onça-parda, o cachorro-do-mato, o gambá, o teiú e uma variedade de aves como a seriema, o carcará, a coruja-buraqueira e o pato. Ao mesmo tempo, circula diariamente um público de cerca de 5 mil pessoas, entre estudantes e funcionários da Universidade, além da comunidade local e da região que visitam o campus como opção de lazer e turismo. E o que fazer quando encontramos um animal silvestre?

Para responder a essa questão, será lançado na segunda-feira, dia 6 de março, o guia Coexistência com a Fauna no Campus USP Luiz de Queiroz (94 páginas), com o apoio da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) e da Prefeitura do Campus USP Luiz de Queiroz. A obra tem autoria dos biólogos Katia Maria Paschoaletto Micchi de Barros Ferraz, professora do Departamento de Ciências Florestais da Esalq e coordenadora do Laboratório de Ecologia, Manejo e Conservação da Fauna Silvestre, e Silvio Marchini, doutor em conservação pela Universidade de Oxford e membro do Instituto Pró-Carnívoros, do Grupo Especialista em Conflito e Coexistência Humano-Fauna e do Grupo Especialista em Planejamento da Conservação.

A publicação, que conta com edição impressa e digital, disponível para download gratuito neste link, conceitua na abertura o termo coexistência como condição em que as partes envolvidas – pessoas e fauna – possam existir juntas de forma sustentável. O conteúdo traz ainda uma série de interações humano-fauna e como proceder nesses casos, informações de onde procurar ajuda em casos de encontro com animais silvestres, disponibilizando no guia os números de órgãos responsáveis, como Centro de Controle de Zoonoses, Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), da Polícia Ambiental e até da Polícia Civil, além de exemplos de gestão desenvolvidos no campus. De fácil leitura, foi desenvolvido em uma linguagem didática e com projeto gráfico atrativo.

Campus Luiz de Queiroz possui grande área de natureza e várias espécies animais circulam por lá – Foto: Reprodução/Esalq

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A aproximação pode ser um problema

“Nada mais natural do que se aproximar para ver melhor aquilo que achamos bonito ou de alguma forma interessante. As pessoas se aproximam de animais silvestres também com a intenção de interagir de alguma forma mais tangível: caçar, tocar, alimentar, fotografar ou fazer selfie”, explicam os autores, mas alertam que a aproximação pode ser um problema para o animal quando ela causa uma alteração em seu comportamento. Por outro lado, informa, também pode ser perigoso: “Um animal que se sinta ameaçado com a aproximação pode se defender com mordida, picada, arranhão ou outra reação agressiva, principalmente se houver filhotes por perto”.

Segundo os autores, uma das interações que mais costumam virar notícia e viralizar nas redes sociais são os “encontros” com onças-pardas, lobos-guarás, ouriços e outros animais em lugares inesperados, como em ruas da cidade, condomínios, no quintal ou mesmo dentro de casa! “Câmeras de segurança revelam e registram a frequência crescente com que isso vem acontecendo em algumas partes do País e em particular no interior de São Paulo”, afirmam.

O guia traz dicas sobre o que fazer ao encontrar um animal silvestre em áreas residenciais ou dentro de casa: “Não tente obstruir seu caminho, cercá-lo ou capturá-lo; mantenha a casa ou a propriedade limpa e livre de entulho, e disponha e gerencie adequadamente os resíduos orgânicos; não tente se aproximar ou tocar; e sempre dê passagem, garantindo que ninguém (nem nenhum animal doméstico) esteja no caminho: é do interesse do animal silvestre voltar para o lugar de onde ele veio”.

Os autores também comentam que “animais que são mais ativos à noite, como o ouriço, o gambá e a onça-parda, podem permanecer imóveis – e assustados – durante o dia, então deixe-os em paz e espere até a noite seguinte para eles irem embora”. Mas caso não seja possível que o animal saia por conta própria, é necessário que um órgão especializado o faça, dizem os autores: “Ligue para o corpo de bombeiros ou para a polícia ambiental para solicitar ajuda”.

Páginas do guia: indicações de como interagir com a fauna local – Foto: Reprodução/Esalq

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Para conviver harmonicamente

O guia lista 20 animais silvestres que são encontrados no campus da USP em Piracicaba e o que fazer para manter a harmonia. Entre eles, está a jiboia, que pode atingir até quatro metros de comprimento. Segundo informações do guia, não é peçonhenta e ninguém morre envenenado por sua mordida: “Ela mata sua presa – roedores, aves, lagartos – por asfixia, comprimindo-a com seu corpo robusto e musculoso antes de engoli-la. Tem hábito noturno, porém pode ser avistada durante o dia”. Costuma ser vítima de caça e tráfico devido ao valor comercial de sua pele e carne, além da sua comercialização como animal de estimação, e são vítimas frequentes de atropelamentos, parte deles intencionais, como lamentam os autores. “Não se aproxime, não tente capturá-la, não faça mal, não mate”, são os principais avisos do guia, que ainda recomenda: “Prefira adotar um cachorro a comprar uma jiboia como animal de estimação”.

Outro exemplo são os saguis, chamados também de sagui-de-tufo-preto e mico-estrela. Segundo o guia, é social e vive em grupos, na copa das árvores, onde defende seu território. “Sua vocalização – um assobio agudo – costuma ser confundida com o som de pássaros. Sua alimentação é generalista e inclui folhas, frutos, brotos, ovos e pequenos animais. Atualmente, existem inúmeras populações em regiões fora de sua distribuição geográfica nativa ­– é originário da Caatinga e do Cerrado do Nordeste e do Brasil central – provavelmente devido a introduções feitas pelo homem. Esse é o caso dos saguis do campus.”

O sagui é uma espécie potencialmente invasora e “pode causar impactos indesejáveis à biodiversidade por meio da competição com espécies nativas e da predação de ninhos de aves”. Por mais irresistível que possa parecer, alertam os autores, a interação direta com o sagui pode gerar problemas, tais como a transmissão de doenças das pessoas para o animal e vice-versa, habituação dos saguis a obter alimentos com seres humanos e maior exposição do sagui ao atropelamento; além disso, a alimentação intencional pode favorecer o estabelecimento dessa espécie invasora e, com tanta proximidade entre pessoas e saguis, o risco de mordidas é uma preocupação (se mordido, vá a um pronto-socorro ou hospital para os devidas cuidados). Por isso, não alimente, não compre ou mantenha o sagui como animal de estimação: “O sagui é animal silvestre protegido pela legislação e é crime ambiental sua captura e comercialização”.

O lançamento do guia Coexistência com a Fauna no Campus USP Luiz de Queiroz acontece no dia 6 de março, às 9h30, na Biblioteca Central da Esalq (Avenida Pádua Dias, 11, Piracicaba, SP).

Confira a publicação digital na íntegra clicando aqui. Mais informações pelo e-mail lemac.esalq@usp.br.

Clique no player abaixo e ouça o podcast com os autores do guia:

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Com informações de Caio Albuquerque (Esalq/USP)

Matéria original em https://jornal.usp.br/?p=612687

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